Poções também tem arte contemporânea e manifesto, e dos bons

A cidade está doente, sufocada. O centro, o nosso grande coração, não suporta ter suas artérias obstruídas. O sangue não suporta parar no meio do caminho para ter que desviar das placas que infestam calçadas, praças e ruas. As veias estão entupidas. Há placas demais, há poluição demais cegando os olhos. Há mentiras demais numa vida quase inerte, que nem terminou de crescer e já adoece, já padece com viroses sazonais.

Um pouco de antídoto para, ao menos, despertá-la é necessário. O remédio só podia ser uma dose de arte, com desenvoltura e manifesto, como toda arte deve ser. Alguns podem até achar que não é, mas hoje foi. E serviu para o coração, para os olhos e, claro, para a cabeça.  Diana Lucard e Pablo, os autores, injetaram nas veias da cidade doses de sarcasmo e lucidez.

Textos simples, que não pediam mais do que respeito, estavam lá: “Não voto em quem não me respeita!” Nada mais direto. “Queremos nossa cidade limpa! Procure outros meios de nos convencer a votar em vocês, assim vocês gastam menos dinheiro com campanha e ganham mais tempo para investir na elaboração de projetos em prol do bem estar social. Denuncie: 08002844886”, estava escrito em outro papel.

A praça parou, as pessoas leram, as pessoas se manifestaram, elogiaram, riram, discordaram, às vezes até de forma veemente, tentando arrancar as pequenas folhas que eram apenas curativos, um paliativo. 

Diana e Pablo injetaram anticorpos no coração da cidade.  Chamaram a atenção para a necessidade de que o nosso sangue, o nosso povo, possa circular sem empecilhos, sem poluição visual ou sonora.  

Ah se o centro de Poções pudesse reclamar, pudesse abrir a boca para dizer que gosta de ser livre. Mas por enquanto permanece sufocado, tentando ao menos respirar.

Texto e fotos: Fábio Agra