Somos filhos de santo. Viva a Marcha do Dendê!

Final de tarde de um domingo quente. Os festejos em comemoração ao dia da Consciência Negra continuam quatro dias após a data que lembra a morte de Zumbi. Lá vem o cortejo descendo a Avenida Cônego Pithon. As pessoas revelam-se e exibem-se para uma sociedade que ainda tenta negá-las. Outros olhares se aproximam com certa curiosidade, e suas sobrancelhas arqueadas desvelam o quanto eles acham majestosos os babalorixás, as mães de santo e os seus filhos. A barreira da intolerância religiosa está sendo quebrada a cada passo, a cada dança.

Agora, todos caminham juntos para a Lavagem da Praça do Divino, local da apoteose. Pessoas de diversos credos estão ali, juntos, respeitando-se mutuamente. Aqueles que no início pareciam perplexos, encostam e, como se fizessem parte desde sempre, registram em suas memórias digitais este marco para as religiões de origens africanas em Poções. É a grande Marcha do Dendê. Naquele instante, os terreiros estavam todos ali. As mães de santo e os babalorixás surgiram como ondas, rompendo até os arrecifes mais altos da ignorância alheia. Todas as entidades convergiram para abrir o caminho ao respeito, à paz.

Então, a água lava a Praça, lava a alma e reflete nossas origens. Somos todos filhos de Poções. Hoje somos filhos de santo, também. Viva a Marcha do Dendê!

                                                                                 

                       

 

 

 

 

  

Texto e fotos:  Fábio Agra