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quinta-feira, 20 de março de 2014

A praça de esportes e a permanência das casuarinas



Há um mês, a prefeitura municipal de Poções foi contemplada com uma verba do Ministério dos Esportes, no valor de R$ 731 mil, destinada para a construção de praças esportivas e de lazer, com uma contrapartida do município de R$ 15 mil. O convênio assinado junto à Caixa Econômica Federal permitirá a realização de um antigo sonho de uma parte da juventude de Poções - uma pista de skate que possa atender a demanda para torneios oficiais - além da possível revitalização da Praça da Bandeira, local escolhido para a execução do projeto, que também inclui pista de caminhada, quiosques, um anfiteatro e o obelisco, de acordo com o chefe de Departamento de Convênios da prefeitura, Jorge Leto.

A insistência e a busca por um lugar adequado para a prática de esportes radicais por um grupo de jovens, talvez, tenham sido a mola propulsora para que o município recebesse tal verba. Victor Novais, 18, é um dos jovens que há alguns anos vem batendo na porta do poder público municipal na tentativa de que uma área que suprisse a demanda dos esportistas fosse posta em discussão.

Sem uma pista de skate, a prática dos esportes radicais tem sido em ruas e, principalmente, na Praça do Divino Espírito Santo, onde alguns equipamentos são montados para a realização das manobras. Mas como esta área parece ainda ser um tabu quanto a sua ocupação definitiva para outros fins que não sejam festas e eventos sazonais, como a própria Festa do Divino, Victor Novais e alguns amigos foram procurar outros locais na cidade que pudessem ser viável à construção de uma pista. No ano passado, eles apresentaram, então, um projeto à prefeitura. “A gente ficou sem espaço nenhum para construir a pista. A gente queria um lugar que fosse mais acessível para todo mundo, que não ficasse ‘escondido’. E aí me veio à ideia da Praça da Bandeira. Naquele espaço que fica praticamente abandonado, em frente ao colégio (Alexandre Porfírio), daquela parte que não tem árvores”.
Um dos canteiros arborizado da Praça da Bandeira
A escolha da Praça da Bandeira para a empreitada teve respaldo da prefeitura, que resolveu ampliar o projeto, com uma proposta de revitalizar a praça e criar outras possibilidades de lazer e cultura. “Essa praça, eu só vi ela se acabando. Vamos revigorar. Dar uma qualidade de vida para as pessoas. Você sabe quantos idosos moram aqui pelo centro que vai poder dar uma caminhada aí, quantas pessoas vão ter recuperação e tranquilidade de andar aí?” Se Questiona Leto ao se referir à pista de caminhada que está no esboço do projeto. 

A Praça da Bandeira atualmente é dividida em duas partes – uma que tem quatro canteiros, formando o antigo jardim, e uma área livre em frente ao colégio Alexandre Porfírio, local onde se projeta construir a pista de skate; e a outra que fica em frente à prefeitura, onde estão um areião e a maioria das casuarinas, árvores antigas que estão lá há pelo menos 60 anos. Entre os dois locais tem uma rua, que deve ser fechada em suas laterais para que no centro, onde existe um canteiro, seja construído o obelisco, além de que suas laterais devem fazer parte do trajeto da pista de caminhada.

Onde estão localizados o areião e as causarianas, pretende-se fazer um anfiteatro. Por as casuarinas serem um símbolo da Praça da Bandeira e estarem próximas à área onde querem edificar a arena, foi-se questionado se esta obra poderia levar a derrubada das árvores. Leto disse que ainda não há nada que possa assegurar que elas serão cortadas. “Eu não tenho interesse nenhum em derrubar árvore.

No passado, havia várias dessas árvores de aspecto rústico e aparência envelhecida. Dona Thereza Santana, 70, que mora em frente à Praça da Bandeira, lembra com saudosismo da época em que se mudou para o local, em 1967. “Essa praça eu sempre achei bonita e tivemos o privilégio de vir morar aqui. Era uma praça de poucos moradores. Tinha o prédio escolar, o fórum que era mais ali embaixo. Eu amava. Sempre amei isso aqui. E tenho agradecido a Deus por nos ter colocado aqui. Havia muitas dessas árvores. Não tinha as outras, tinham somente elas.
Vista de frente da casa de dona Thereza Santana para a Praça da Bandeira
De 1967 para cá muitas foram levadas ao chão e não “cantam” mais no inverno, estação em que as pessoas mais velhas costumam dizer que se ouvia o canto das casuarinas.  Atualmente, restaram apenas seis em frente à prefeitura e mais duas em um dos canteiros do outro lado da rua. Segundo Zorai Santana, chefe de Seção do Meio Ambiente da Prefeitura de Poções, após uma visita à praça para apenas observá-las, mas, sem ainda um estudo aprofundado, “não foi evidenciado que aquelas árvores têm iminência de queda ou que estão à beira da morte. Até mesmo, você vê que elas têm uma cobertura verde e têm muita folha. Então, elas não estão morrendo.” Ela acrescenta que se as casuarinas forem cortadas “não serão porque estão velhas ou estão na iminência de cair”. Logo, as chances para que as casuarinas sejam mantidas, provavelmente terá um respaldo técnico também.

Como o projeto da praça ainda está sendo elaborado pela prefeitura, nenhum laudo foi emitido a respeito da arborização do local. Ainda de acordo Zorai Santana, quando há necessidade de corte de árvores na cidade, existe todo um trâmite que envolve a secretaria e o conselho de meio ambiente para que seja autorizada a derrubada. “Não só é a secretaria aqui que decide se vai ser cortada ou não, justamente por se tratar de uma praça, de uma área verde que não está colocando em risco a vida de ninguém. A gente analisa, passa pelo conselho de meio ambiente, e a palavra final cabe ao conselho”. Quanto ao lado em que  estão os quatro canteiros, sendo três bem arborizados, Leto afirma que ali as árvores não irão ser derrubas. Porém, será feito apenas “cortes” no jardim para que abra espaço para a pista de caminhada e à construção de quiosques, banheiro público e uma guarita. 

Segundo Leto, a pista de caminhada deve ter em torno de 500 m com um formato de “raquete”, indo de uma ponta a outra da praça. “Nós estamos colocando a pista de caminhada. O povo quer parar de andar na rua. Eles querem segurança, que vai aí no centro, tranquilidade, horário, porque eles podem correr 4 da manhã, 5 da manhã com mais tranquilidade, caminhar à noite e é um lugar plano.” A ideia de uma pista de caminhada agradou a dona Thereza Santana, que por morar perto faz os exercícios contornando a praça sempre ao entardecer. “A pista de caminhada eu sou a favor”, diz ela, para em seguida se mostrar reticente e contrária quanto às outras obras, tais como a pista de skate e o anfiteatro. Conforme dona Thereza, acabará com o sossego da praça. Pode fazer o que for, mas longe daqui, que essa praça é residencial”.  Ela conclui dizendo que “se vai fazer um projeto desses aqui na praça quem primeiro deveria ser ouvido são os moradores, em qualquer lugar. Ninguém aqui foi procurado”.
Vista quase total da praça e o local que pode abrigar o anfiteatro. Ao fundo, à direita, área destinada à pista de skate
Quanto à utilização do anfiteatro, Leto afirma que não será todos os dias. “Não vai ter festa aqui todo dia, nem todo dia vai ter som noturno. É a prefeitura dizer que sexta, sábado e domingo estará aberto”. Leto ressalta também que o anfiteatro será importante para as comemorações cívicas e outras datas, tais como o 7 de Setembro, Dia das Crianças e para apresentação de teatro na Semana Santa. “Eu acho que tudo é coerência, eu acho que o que nós precisamos mesmo é dar uma qualidade melhor. Então, é uma coisa que vai acontecer, assim, pontualmente. É tudo questão de quem está à frente já mostrar as regras. É botar norma, lei, ter regulamento. Acho que nós vamos melhorar nossa qualidade de vida”, conclui.

O projeto da nova praça esportiva ainda está em fase de elaboração e, segundo Leto, deve ser encaminhado à Caixa Econômica Federal, que é a responsável pela sua aprovação e irá fiscalizar as obras, dentro do prazo de até oito meses a começar pela data de assinatura do convênio. Depois a Caixa tem um mês para avaliá-lo. Deve constar no projeto a topografia do terreno, planilhas orçamentárias, o prazo da obra, licenças, entre outros itens. Só após a aprovação da Caixa que as obras terão início. O prazo final para que tudo fique pronto e que seja inaugurada é até 31 de abril de 2016. “Nós vamos ter aí muita coisa para fazer. As pessoas me perguntaram: quando é que você pode dar a ordem de serviço? Eu acredito que se tudo correr dentro do prazo, lá para setembro pode ter uma ordem de serviço. Mas não estou dizendo que seja exato”, diz Leto.

Texto e fotos: Fábio Agra
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Embora o blog seja fundamentalmente para a escrita de crônicas sobre Poções, resolvi abrir espaço para a publicação desta matéria, pois o assunto está diretamente ligado ao nome do blog e à memória da cidade.   

3 comentários:

  1. Certo a revitalização da praça. tenho pensado no assunto, para o replantio das árvores e um novo obelisco para homenagear os imigrantes .iiimigrantesimigrstesImigrsnteshomenagear

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  2. Incentivos aos esportes sem dúvida é um ato louvável. Pena que não é dispensada a mesma atenção às micros e pequenas indústrias existentes em nosso Município, que apesar de clamarem por um espaço para se estabelecerem – o qual já existe – continuam “premiadas” pelo descaso. Lamentável.

    AMIP – Associação das Micro e Pequenas Indústrias de Poções
    J. Cássio M. Dias
    Presidente

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  3. É muito triste quando a moradora fala "Pode fazer o que for, mas longe daqui, que essa praça é residencial". Podemos analisar que o preconceito contra os garotos (as) que praticam um esporte como o de skate sofrem. Mas não só eles, os negros, os tatuados, os homossexuais, os que curtem rock e tantos outros preconceitos que perduram a sociedade até hoje. E o preconceito é questão de saúde. Mas de saúde? Sim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1949 convencionaram afirmar que saúde é o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença. Particularmente não tenho acompanhado esse movimento, mas onde a Secretaria de Saúde de Poções fez presente? E a intersetorialidade (educação, segurança, e outros)?
    O incrível é a possibilidade de cortar árvores, se estamos falando de uma praça em que a proposta é tornar um espaço de convivência, será mesmo que terá gente na praça domingo pela manhã com o sol rachando, sem nenhuma árvore? Ou vão cortar as árvores restantes para plantar novas nos lugares estratégicos da nova praça? Realmente será bem mais fácil plantar e esperar crescer, do que fazer um projeto mantendo-as. Aproveita e colocar pedra de mármore igual na Praça Raimundo Pereira de Magalhães, onde ás 17h ainda estão quentes do dia todo de sol. Então onde entra os engenheiros dessa praça? Quais o engenheiros contratados para fazer este projeto?
    Não podemos esquecer que o centro da cidade era repleto de árvores e para dar a cara que tem nos dias de hoje foram tiradas várias árvores da espécie "algarobas" (não sei nome científico), mais qual foi a intenção? Será que o motivo da retirada daquelas árvores foi a "sujeira" que ela faz? E os benefícios que ela trazia?
    Se essa mensagem chegar até os garotos que estão a buscando esse movimento de criação de um espeço para prática de seu esporte, quero dizer que nenhuma luta social é fácil e da mesma forma que estão buscando a praça, busque para a educação, saúde e demais direitos. Não podemos deixar que a politicagem ou a burguesia continue atrapalhando o crescimento de nossa sociedade e principalmente de nossa cidade.
    Tem tantos assuntos e perguntas que podemos tirar nesta matéria, mas ficarei somente nesses. Agradecer a Fábio Agra (que já foi meu professor) pela bela matéria.
    Abraço aos envolvidos!

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