Chegamos por volta das 17h na
antiga morada de Góes Calmon, que agora tem como habitantes vários imortais
baianos. Subimos a escada, que dá acesso às dependências do Palacete, tentando
nos esquivar do final de tarde chuvoso em Salvador. Os bustos dos grandes
escritores estão ali prostrados, olhando atentamente a estes visitantes do
interior, que vieram da pequena, mas estonteante, cidade de Poções.
Aproximamos-nos timidamente, até pela
reverência ao local. Em cima de uma mesa logo na entrada, cada um de nós pega
um exemplar do livro com capa azul. Em alto-relevo, o nome de Affonso Manta,
que há 10 anos partia de vez para o desconhecido, agora estava impresso na
coleção Mestres da Literatura da Bahia. Era início de uma noite festiva, de
homenagens a este poeta. Era o lançamento de Affonso Manta – Antologia Poética.
Dou mais uns passos e olho de
soslaio para a outra sala. Estão sentados à imensa mesa de madeira Ricardo
Benedictis, Aramis Ribeiro e o mestre Ruy Espinheira Filho. Um pouco tímido,
fico reticente em aproximar-me de Ruy Espinheira. Enquanto ele conversava e autografava
alguns exemplares da Antologia Poética,
que ele selecionou e organizou, uma mulher anuncia que o pessoal de Poções
chegou. Ruy vira-se um pouco de lado e nos vê. Diz então - Que maravilha!
Pegamos nossos livros e os deixamos a postos para serem autografados também. Até
então, não dizemos uma palavra. Ficamos contemplando o ambiente, que passa a
pertencer também a Affonso Manta. Aos poucos, mais pessoas vão chegando.
Com um grande sorriso, Eduardo
Sarno adentra a sala de braços abertos. Em seguida chega Tuna Espinheira.
Ricardo Benedictis nos apresenta a Rosa Alba Sarno, irmã do cineasta Geraldo
Sarno. Aos poucos, vamos familiarizando-nos uns com os outros e as histórias
sobre Poções vão vindo à memória, são contadas. Rosa Alba fica entusiasmada ao lembrar-se
do cinema. Conta como Irineu Sarno atentava em algumas sessões. Com muita
elegância, ela caía na risada. Dizia, então, com um saudosismo estampado no
olhar – Preciso ir a Poções. Estávamos – Dinho Oliveira, Gildásio Júnior,
Marcelo Santos, Zezel Leite, Telma Carmezina, Júlia Letícia, Lucimar Alves,
Sílvio Persi e eu – ouvindo atentamente Rosa Alba e Eduardo Sarno. Enquanto
isso, Tuna Espinheira contava-me que seu próximo filme, O imaginário de Juraci Dórea no Sertão/Veredas, seria lançado em
meados de dezembro em Salvador, com exibição única.
Naquele instante, Poções estava
ali com seus cinemas, com a velha Igreja Matriz, a rua da Itália, a praça do
Obelisco. Tudo cabia em apenas uma sala da Academia de Letras da Bahia. Várias
gerações respiravam a poesia de Affonso Manta e o nome da cidade era dito com
galhardia.
Paramos por um momento para ouvir
atentamente Ruy Espinheira Filho dizer sobre a Antologia, sobre Affonso. Com uma voz rouca e firme, Ruy exalta o
nosso querido poeta. O põe entre os grandes. Faz-nos entender que em algum
momento Affonso será reconhecido como um dos maiores poetas da segunda metade
do século 20.
- Desde Poções que nós viemos com
uma longa conversa, longa convivência. Eu sei que o que eu fiz aqui iria
agradar muito Affonso. Esta é a grande recompensa minha deste trabalho: trazer
um livro de um poeta importantíssimo. Tenho enviado exemplares para fora. Está
fazendo sucesso e espantando as pessoas que estão mal acostumadas com poetinhas
de segunda e terceira categorias. De repente pegam um poeta dessa qualidade e
ficam de boca aberta. ‘Ah, mas nunca ouvi falar’ - O problema é seu. O problema
não é dele, não. Ouviu falar agora. Então passe a falar dele, passe a lê-lo e
passe a divulgá-lo.
Então, como se estivesse em uma
demonstração do que acabara de dizer, Ruy lê dois poemas de Affonso: Relâmpagos e Quando esta noite passar... Em seguida diz - Meu velho amigo Affono Manta.
Ele, com certeza, está por aqui porque ele era sempre surpreendente. Deve estar
dando boas risadas dessa minha tarefa inesperada também.
A noite passou, Affonso, com
alguns relâmpagos, e agora você já é imortal, mesmo sem ocupar alguma cadeira
da Academia. Tornou-se imortal simplesmente porque sua poesia o fez assim.
Quanto a nós, regressamos a Poções, ainda em meio à chuva, e trouxemos além do
velho Affonso Manta, as memórias de Eduardo Sarno, de Rosa Alba Sarno, de Ruy
Espinheira Filho...
Affonso Manta
Fonte: germinaliteratura.com.br
Texto: Fábio Agra
Fotos: Fábio Agra, Élvio Magalhães e Zezel Leite, respectivamente
Texto único, com a leitura e fotos, fui a Academia Baiana de Letras com vocês.
ResponderExcluirObrigado Ricardinho por ter lido mais uma vez. Valeu mesmo
ExcluirPrestigiar quem merece. E estou gostando dos textos que já li, conhecer mais nossa Poções, casuarinas e ademais.
ExcluirParabéns Fabio ! Gostei do nome do blog e da iniciativa de prestigiar o lançamento do livro de Afonso/Rui. Abraços do amigo e da turma de Ipitanga. Luizito.
ResponderExcluirOlá Fidelis. Outras histórias sobre Poções e também sobre as casuarinas vão aparecer por aqui. Obrigado por ter visitado o blog. Grande abraço a todos aí.
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